sábado, 26 de junho de 2010
O da menina que não queria casar.
São quatro e trinta e cinco da manhã, segundo o meu relógio... não consegui dormir, o que parece óbvio. Assisti “A insustentável leveza do ser” a madrugada toda, lembre-me de não ver filmes com 4h de duração... pensei em você o tempo todo. Não, não é porque tem comunistas no filme (piada infame). Enfim, acabou o filme e ainda não consigo dormir, não tem ninguém aqui pra me contar uma história, nem ninguém pra me abraçar. Eu até trouxe Chino, mas não é a mesma coisa, queria você. Eu não sei direito o que escrever, não tenho facilidade pra dizer “eu te amo” muitas vezes seguidas, ou tenho facilidade pra escrever, bem, não sei o que quero dizer. Tínhamos conversado do quanto eu estava feliz e por isso não estava conseguindo escrever nada, estar feliz poda um pouco minha criatividade. Me acostumei com a melancolia, me acostumei a sentir medo, me acostumei a procurar sempre uma ponta de tristeza onde pudesse me esconder pra escrever. Estou um pouco triste agora, sinto saudade, e sinto medo também. Eu sinto tantas coisas que nem sei pontuá-las. Eu sinto tanto você, e não queria sentir, pelo menos não agora. Eu admito, gosto de ser triste, gosto de ser falsamente feliz, era o meu abrigo. Gosto de aparentar uma liberdade que não tenho, gosto de chorar quando fecho a porta do quarto, você já deve ter percebido. Eu sou estranha, e não sei se você agüenta isso. Existem milhares de pessoas lá fora, pessoas normais, que buscam a felicidade, que sentem facilidade em expressar o que sentem, pessoas bonitas, alegres, inteligentes, loiras, morenas, multicoloridas, muitas delas devem ser melhores do que eu, e eu sinto por você não poder descobrir isso. Eu me apaixono muito fácil, meu pai vive dizendo isso, na verdade, me apaixonava semanalmente. Talvez não seja minha culpa, é a diversidade que existe no mundo, coisas novas que a gente tem vontade de viver, mas que quando deixa de ser novo, perde a graça, e aí aparece outra coisa, que também perde a graça, porque nada é novo pra sempre, e isso é óbvio também. Em toda minha longa vida de quase vinte e um anos, só disse “eu te amo” para quatro pessoas, não foram boas experiências. Eu deixei e fui deixada, e fui deixada mais vezes do que deixei. Estou cansada. O amor me cansa as vezes. Amor me lembra felicidade, me lembra café da manhã na cama, que me lembra jogar milho pros pombos imundos da Pça da Bandeira e achar bonito. Amor tem gosto de café com leite condensado, e cuzcuz com soja. Amor é feliz como passear no Parque da Criança na hora que o sol está se pondo. Amor é bom, mas é também e-mails indesejados, ligações pros seus pais contando seus segredos, bocas gritando “puta”. Amor é bonito, mas é também conversa séria decidindo que o melhor é acabar com o amor. Eu não tenho medo de ser feliz, ou tenho, eu já não sei. Talvez eu seja boba e cheia de medos, cheias de traumas, cheia de pequenas loucuras. Mas sou cheia de vontades também, de sonhos, de palavras que querem sair de mim. É difícil, eu sou difícil, e eu nunca disse isso pra ninguém porque afinal de contas não se pega uma galinha assustando ela. Ontem a noite você disse que me amava, disse que queria ficar comigo pra sempre, quer uma filha, não agora, mas daqui a cinco anos. Eu quero acreditar em você, mas me entenda, não é fácil. Em toda a minha longa vida de quase vinte e um anos muitas pessoas se apaixonaram por mim, paixões semanais. Apenas 4 pessoas disseram que me amavam, me deixaram mais do que eu as deixei. Não quero ser deixada de novo, se é que você me entende. Ser deixada me faz desacreditar no amor, me faz ver tudo cinza, me faz escrever dias e dias a fio, emagrecer quilos, meu cabelo fica feio, e eu esqueço de fazer as unhas. Ser deixada me faz viajar pra São Paulo sem ter nada pra fazer lá. Ser deixada me faz querer comer o mundo todo e depois pedir uma moto. Ser deixada me deixa fria e vazia. Então, por favor, não me deixe. Sei que isso é pedir muito, mas estou de fato apaixonada por você. Mais que isso, eu amo você. Eu sinto medo de te perder. Sinto medo de acordar e não te ver, de não sentir teu cheiro, nem ver teu sorriso ou ouvir a tua voz. Sinto medo de não rir mais dos teus trejeitos, ou de nunca mais andar de mãos dadas. Eu te amo, por isso não me deixe. É muita responsabilidade, eu sei. É jogar responsabilidade nas suas costas brancas e tatuadas, mas não me deixe. Sei que isso de deixar é relativo, ninguém além de mim começa um relacionamento achando que ele vai acabar daqui a três semanas. Mas, por favor, quando você cair na real e perceber que no mundo existem pessoas multicoloridas e cinzas também, esperando por cor. Quando você quiser se misturar em cores, ser verde, roxo, marrom e vermelho, me avisa? Para que eu tente ser da cor que você gosta, pra eu não ter que ver você colorindo outras telas enquanto eu fico cinza e escrevendo dias a fio. Não quero te perder, eu te amo. Eu não sou perfeita, nem to querendo ser. Sou gorda e tenho cara de puberdade, cheia de espinha. A cor do meu cabelo ta caindo, e acho que meu pulmão deve estar preto, mas eu te amo. Te amo nas suas pequenas coisas, nas pequenas chatices, nos pequenos gestos, e talvez quando você não me amar mais eu ainda te ame. Eu quero que dure, dure tipo, enquanto eu estiver viva. Vamos comigo? Vamos nessa casa com geladeira redonda, e fogão redondo também. Com dois filhos, eu quero uma menina e um menino. E eles tem que ser da minha cor e ter teu cabelo. Ter minha boca e o teu nariz, os olhos podem ser de qualquer um de nós, afinal, nossos ojos são lindos! Eu quero dormir e acordar do teu lado pra sempre, te abraçar, dizer que te amo, desejar bom dia, fazer café-da-manhã, almoço e jantar, assistir televisão e ficar no computador junto. Eu quero ficar do teu lado, ser tua companheira, ser tua amiga, amante, ser tudo o que você precisar, até mesmo professora. Bem, eu poderia ficar aqui escrevendo para sempre, mas já são cinco e treze da manhã. Acho que preciso dormir. Queria que você me ligasse. Enfim.