quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Não consigo dormir.
Tenho os olhos dos que choram, o coração dos que sentem...
Poderia passar o resto dessa madrugada entorpecida pelos meus próprios devaneios. É, poderia, mas não vou, não tenho coragem.
Eu poderia dizer o quanto você me faz falta, como diria Clarice, sinto sua falta como a um dente da frente, excrucitante.
Alguns me tomam por exagerada, ou até mesmo covarde, com aquela historia de que quem sente falta, fala.
Eu nunca vou dizer isso a você, pois é, nunca conversaremos sobre isso, e sendo assim, você nunca saberá dessa dor que me causou por simplesmente não estar.
O que eu faço agora? Está mais perto do que longe esse reencontro, e eu sinto medo.
Será tudo como era antes, mas como pode ser? Eu mudei.
Amizade.
Saudade.
Não sei mais...
Ao menos agora acho que valorizarei mais seu passar de mão na barba, e seu meio sorriso.
Sua cara de sinismo que me deixava constrangida, sei que quando revê-la me encherei de felicidade. E até mesmo agora, fico feliz só de lembrar.
Sem dúvida és uma boa lembrança pro meu espírito e um alimento pra minha carne.
Talvez você nunca saiba, mas eu desejei todos os dias a sua volta.
Não sei ser passional o suficiente, mas meus olhos não me deixarão mentir, de uma forma ou de outra, quando seu oxigênio se misturar ao meu você saberá, e pensará: "essa mulher me quer".
Se não notar eu desisto, não haverá mais nada pra fazer.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Maria.

Maria disse que isso já estava indo longe demais, não podia viver por aí, chorando no canto das paredes. Onde já se viu? passar o dia todo ouvindo música triste e lembrando o que não foi? Maria emagreceu, e depois engordou de novo. Comia pra esperar o tempo passar, e comia também pra esse tempo passar mais rápido. Maria não sai mais de casa, ela disse que não tem graça, o fora e as pessoas que habitam esse fora, o problema de Maria é que ela quer só José.
José disse que é feliz do jeito que está, ele não sente falta de nada, nem de Maria. Por isso, Maria vive pelos cantos.
Eu juro, Maria me disse que ia dar um ponto final nisso, ela me disse, mas mentiu.
Ontem encontrei Maria, estava sentada no banco da praça, fiquei feliz, pensei "Que bom, Maria saiu de casa", sentei do lado dela, ela nem me olhou, começou a falar, aquelas mesmas coisas que ela me diz sempre que nos encontramos... Maria diz que não entende, diz que fez tudo certo, como pode ter dado errado?
Lembro que quando nos conhecemos vi de cara que ela era a pessoa mais maluca com quem eu já tinha me relacionado. Maria tinha uma alegria no olhar, e uma energia que não acabava nunca! Maria era do tipo que traz você pra vida, não perde uma piada, nem um sorriso, nunca tinha visto Maria chorar.
Lembro que quando decidimos que o relacionamento não ia mais andar, Maria tratou logo de fazer uma piada, e ficamos rindo disso um bom tempo. Eu não entristeci porque tinha perdido Maria, eu tinha a achado, isso pra mim foi revigorante. Saímos abraçadas, Maria me apontando o céu, falando da nuvem que era coelho, mas tinha peito de bode, Maria definitivamente não era daqui. Maria conheceu José. Maria correu pra me dizer todas as qualidades dele, que ela nem sabia que uma pessoa podia ter, dava gosto ver os dois, duas crianças, dois adultos, dois irmãos e dois amantes. Aquilo não podia dar certo. Maria não era sincera, com ela mesma.
Maria dizia que não conseguia gostar de uma pessoa só, que tinha sentimento pra ela e o mundo todo, eu disse que isso não tinha como ser. Maria batia o pé e dizia: "Franciscaaaaaa, eu tô te dizendo, não consigo gostar só do José." Claro que não, José também não sabia gostar só de Maria, José não sabia resisitir a uma novidade. Isso não chateava Maria, afinal, José sempre voltava. Isso durou meses, essa relação, Maria nunca me disse onde começou a doer. Sim, porque sempre tem o momento que a situação se torna insustentável. Mesmo pra Maria, cem por cento disposição, Maria também sentia, por mais surpreendente que isso pudesse parecer, eu sabia, ela também tinha coração. José foi embora. Os dias de festa acabaram, o colorido acinzentou, o doce amargou na boca. Maria não saia mais, não brincava, não sorria, fechou-se. Não soube o que fazer, tentei levar Maria pro mundo, apresentei gente nova, com quem ela passava um dia e uma noite, nunca mais que isso. Acho que menti, Maria sorria sim algumas vezes, sempre que falava das boas lembranças. Quando lembrava de José, que não voltou. Maria sabia que ele não voltaria mais. Maria doía toda porque sabia. Eu não soube o que fazer, abandonei Maria. Eu pensei que ninguém podia morrer de amor, se é que isso era amor, acho que Maria estava triste porque perdeu o amigo de brincar. Porque afinal, José e Maria eram uma brincadeira boba. José e Maria eram sorrisos, eram desenhos e poemas. Maria devia estar sentindo falta. José que era comum acabou se tornando diferente. Maria sabia que não ia encontrar outro José, e chorou. Maria chorou tudo o que tinha, emagreceu tudo o que tinha, fumou tudo o que tinha, e bebeu sozinha tudo o que tinha. Maria viveu tudo o que tinha, e morreu. Maria mentiu pra mim, mentiu pra ela, e se acabou, sozinha. Maria que não soube ser passional o suficiente quando José foi embora, Maria que não soube dizer "fica". Maria que abraçou ele e desejou boa viagem. Maria que ficou com as fotos, com as músicas, mas sem José. Maria que se acabou, e se enterrou. Maria que viveu e não viveu. Maria que disse que isso de morrer estava indo longe demais. Maria que foi longe demais e não voltou. Maria não segurou a mão de José, se soltou e se acabou. Maria que fez tudo certo e errou. Maria que era minha sorrisos e dela mesma de lágrimas. Maria, sozinha, Maria.